Pouco passava do meio-dia quando alguns dirigentes do Benfica, do Porto e do Sporting assomaram à entrada da sala onde há meia hora decorria o conciliábulo. Vinham de cenho carregado, o que era plausível perante o sem-fim de boatos postos a correr há dois dias. O primeiro a expor a situação foi o porta-voz do Benfica:
   – Caros amigos, os zunzuns que desde anteontem à tarde circulam pelos nossos balneários possuem fundamento: acabámos de receber uma oferta de um multimilionário russo para comprar, de uma assentada, os nossos três clubes!

   Na sala fez-se um bruaá atroador, enquanto os jornalistas se entreolhavam com estupefacção. Quando os ânimos serenaram, interveio o representante do Futebol Clube do Porto:
   – O que vos comunicámos corresponde à verdade. Um magnata russo, conhecido novo-rico do submundo mafioso, propôs-nos adquirir a totalidade das acções do Sporting, do Porto e do Benfica por quinhentos milhões de euros! Quem entabulou o contacto foi um mal-afamado causídico lisboeta, mas é de supor que seja somente um testa-de-ferro.

   Alguns repórteres cochichavam à socancra, enquanto outros se distraíam em apartes e excogitações. Finalmente, perorou um porta-voz dos três clubes:
   – Em nome dos nossos gloriosos clubes, anuncio-vos sem ambages que rechaçaremos esta policitação iníqua e cenosa, feita com má-fé! Dir-nos-ão que é uma boa oferta e acenar-nos-ão com o vil metal, mas ab-rogá-la-emos em bloco! Para que não subsistam mal-entendidos, asseveramos-vos que esta recusa é irrevogável. Sem nos ensoberbarmos, reiteramos o papel insuprível que as nossas agremiações têm desempenhado em prol do desporto nacional. Não estão à mercê de um socarrão mal-intencionado!
   Depois deste elóquio, toda a sala aplaudiu efusivamente e entoou os hinos dos três clubes.